Empresário que matou duas pessas no trânsito vai a juri 22 anos após acidente

Um duplo homicídio de trânsito ocorrido na avenida Beira-Mar Norte, em Florianópolis, pode enfim ganhar um desfecho 22 anos após a morte das vítimas. Nesta quinta-feira (17), será julgado pela segunda vez o empresário Aroldo Carvalho Cruz Lima, hoje com 56 anos. Ele dirigia um veículo importado de luxo numa madrugada de setembro de 2002, quando atingiu a traseira de um Audi e provocou a morte do motorista Rafael Lucca Geraldo, de 23 anos, e do passageiro Vitor Hugo Marins Filho, de 24 anos. Os dois haviam saido da Boate Café Cancun, que tinha Aroldo como um dos sócios.

Aroldo na época era dono de diversas casas noturnas na Capital, além do Café Cancun. Hoje, ele é proprietário da Rádio Jovem Pan, de extrena direita, na Capital. Na primeira vez em que foi a juri popular pelo crime de trânsito, em 2017 – 15 anos após o incidente – Aroldo foi condenado a sete anos de prisão, em regime semiaberto, mas ganhou o direito de recorrer da sentença em liberdade. Agora, passados mais sete anos, ele estarpa mais uma vez no banco dos réus.

Na noite do ocorrido, Aroldo não chegou a ser submetido ao teste do bafômetro. Ainda assim, o promotor que atuou no caso, Andrey Cunha Amorim, sustentou a tese de que o empresário dirigia embriagado na noite do acidente, baseado em depoimentos de policiais que indicaram que o réu apresentava sinais de embriaguez. Na avaliação do promotor, houve o chamado dolo eventual: quando não há intenção, mas assume-se o risco de provocar a morte.
Durante o juri de 2017, Amorim ainda apontou repetidas vezes que teria havido um “racha” entre os envolvidos antes da tragédia.

Aroldohoje é dono da Radio Jovem Pan, de extrema direita, em Florianópolis.

Em seu depoimento diante dos jurados, Aroldo afirmou que permaneceu por pelo menos uma hora no local do acidente, acompanhado da mulher, sem deixar de prestar os esclarecimentos necessários. Ele negou ter sido abordado por qualquer policial para fazer o teste de bafômetro e garantiu que não estava alcoolizado no dia dos fatos. “Hoje eu estaria preparado para este tipo de acontecimento, poderia até orientar alguém. Mas em nenhum momento recebi qualquer tipo de orientação sobre o que fazer. Nunca fui beber em bar com os amigos. Minha vida é do trabalho para casa, da casa para o trabalho”, afirmou, na época.

O empresário ainda afirmou que só deixou a avenida Beira-Mar quando o pai de Vitor, uma das vítimas da colisão, chegou ao local do acidente. A alegação foi de que não suportou ver o pai do jovem testemunhar a situação.
Desde o início do inquérito policial que resultou no processo que o levou a juri, Aroldo manteve uma banca formada por 12 advogados atuando em sua defesa, liderados pelo criminalista Cláudio Gastão da Rosa Filho. Desde o início dos trâmites na Comarca da Capital, Gastão contestou o trabalho da perícia, questionou a credibilidade de parte das testemunhas ouvidas na investigação e também colocou em dúvida a atuação da primeira juíza a conduzir o caso.
Além disso, um perito contratado pela defesa de Aroldo apontou versões diferentes sobre a dinâmica da colisão. A tese apresentada pelo réu era de que o Audi ocupado pelas vítimas cruzou a pista repentinamente, vindo a causar o acidente.

O promotor Andrey Cunha Amorim, por outro lado, reiterou a legitimidade da perícia oficial e dos depoimentos de testemunhas e policiais ouvidos no processo. O promotor ainda questionou o fato de o empresário não ter sido submetido ao teste do bafômetro e alegou repetidas vezes que Aroldo era privilegiado por ter boa condição financeira e excelentes advogados. “Quem não sabe que nesse país há dois tipos de processos, o processo dos ricos e o processo dos pobres?”, questionou Amorim, mencionando as dezenas de recursos judiciais que arrastaram o processo por mais de duas décadas. Entre eles, houve até mesmo um pedido de habeas corpus negado no STF pelo então ministro Luiz Fux.

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