Mulheres cineastas de SC apresentam filmes inéditos em Festival de Garopaba

Nascida em Tubarão, no Sul de Santa Catarina, Eglê Malheiros, de 96 anos, que é exemplo da presença feminina na história do cinema catarinense, é um dos destaques da 3ª edição do FICA – Festival Internacional de Cinema Ambiental de Garopaba, que acontece de 4 a 9 de novembro. É que no dia 7 de novembro, a partir das 19h, o documentário “Eglê”, dirigido por Adriane Canan e produzido por uma equipe técnica formada só por mulheres, será exibido de graça na Praça Central de Garopaba, cidade que desde 2018 faz parte da Grande Florianópolis.

Segundo a diretora, Eglê foi a primeira mulher catarinense roteirista de cinema. Junto ao companheiro Salim Miguel, escreveu roteiro e argumento do primeiro longa-metragem filmado em Santa Catarina, “O preço da ilusão”, 1957, uma epopeia que marcou época em Florianópolis pelas mãos dos jovens do Grupo Sul. Antes, em 1952, pelas Edições Sul, publicou seu primeiro livro de poemas, intitulado Manhã.

“O documentário ‘Eglê’ tem como intenção jogar luz sobre a história de Eglê Malheiros, uma mulher de vanguarda de Santa Catarina em várias áreas, como política, cinema, literatura, tradução e outras. Ela foi a única mulher a integrar o Grupo Sul”, compartilha Adriane.

Com produção da Margot Filmes e coprodução da Lilás Filmes e da Calêndula Filmes, o documentário produzido em 2023 com recursos do Prêmio Catarinense de Cinema 2019 – Fundação Catarinense de Cultura (FCC), ANCINE/FSA (Arranjos Regionais), circulou por festivais nacionais e recebeu o Prêmio de Melhor Longa Nacional no VII Curta Lages – Festival Internacional de Cinema (2024) e Menção Honrosa na Mostra de Audiovisual do Seminário Internacional Fazendo Gênero 13 (2024), em Florianópolis.

Natural de Quilombo, no interior de Santa Catarina, formada em Jornalismo e com Mestrado em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de SC (UFSC), Adriane, que cursou também a oficina de Roteiro Avançado na Escuela de Cine y Televisión de San Antonio de Los Baños, em Cuba, está feliz em poder participar do FICA Garopaba.

“É muito interessante participar de festival em uma cidade como Garopaba, pois, além de apresentar filmes nacionais e internacionais, festivais como o FICA possibilitam o acesso ao que é produzido aqui e em outros lugares a outras pessoas, a um espectro maior de público. É um caminhar de políticas públicas de inclusão de públicos e realizadores”, destaca a diretora que entrou no mundo do cinema incentivada pela vontade de contar histórias e de encontrar caminhos narrativos.

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Já o documentário “Plantadeira”, que será exibido no sábado, dia 9, às 18h, marca a estreia de Sheide Mara como diretora. Nascida em Florianópolis, e morando desde 2018 em Garopaba, a terapeuta que trabalha com foco em práticas integrativas que unem arte, música e o cultivo de plantas para promover saúde e bem-estar, está contente por integrar a programação do FICA Garopaba.

“É uma emoção poder participar de um Festival desse porte aqui na nossa região. E estar transmitindo a mensagem da importância das plantas em seus diversos usos é de grande valor, ainda mais por tudo que estamos vivenciando hoje com essa crise climática, é essencial que valorizemos o cuidado com a terra e o poder das plantas para a cura do corpo, da mente e do espírito”, destaca.

Com uma abordagem que integra corpo, mente e ambiente, Sheide conta que busca transformar a relação das pessoas com seu próprio bem-estar e com a terra. “O cinema nunca foi a minha área, meu grande sonho era implementar hortos de plantas medicinais na cidade. E com a oportunidade da Lei de incentivo Paulo Gustavo, nós decidimos gravar o documentário sobre o poder das plantas e mulheres plantadeiras da nossa região”, completa.

Produção em Garopaba
Totalmente produzido na cidade de Garopaba, o curta-metragem “A Última Primavera”, dirigido por Michelly Hadassa, promete ser uma das sensações do FICA Garopaba. É que a produção, que conta com parte da equipe e elenco da cidade do Litoral Sul de SC, foi premiada recentemente pelo Júri Popular no 28º Florianópolis Audiovisual Mercosul – FAM 2024, em Florianópolis.

Esse é o terceiro filme produzido por Michelly, que tem no currículo a participação em mais de 100 produções audiovisuais, curtas e longas-metragens, filmes publicitários, além de séries para TV.
Morando há 25 anos em Garopaba, a gaúcha de Estrela conta que o interesse pelo cinema surgiu a partir de uma imensa vontade de contar histórias e de transformar pessoas. “Muitos são os filmes que nos tocam e nos trazem lições, toda criança já viveu um momento no qual queria ser um super-herói ou uma princesa de contos de fadas. Quando comecei a estudar Cinema, percebi que me identificava mais com filmes que mostrassem a minha realidade, filmes pelos quais era possível eu me colocar naquele lugar e sonhar com uma vida melhor. Aí, obviamente, começam os questionamentos sobre diversidade temática, gênero e raça”, compartilha.
Michelly conta que foi após o falecimento dos pais que escreveu o roteiro do filme “A Última Primavera”. “Me tornei mãe, descobri da pior forma como é difícil fazer arte e sobreviver dela, quando se tem filhos, é difícil ser mulher e continuar sonhando após a maternidade. É preciso mais do que força para sobreviver numa sociedade patriarcal e conservadora”, ressalta.

O curta será exibido dentro da Mostra Vozes Veladas, com filmes Catarinenses, a partir das 18h do dia 9 de novembro. Para Michelly, a oportunidade de exibir o filme em Garopaba, principalmente dentro da programação de um Festival de Cinema tão importante como o FICA, é muito importante.

“Cresci nessa cidade com a ausência de cultura que atraísse os jovens, ausência de políticas públicas que contemplassem o pessoal mais underground e ver um evento desse aqui na cidade é muito gratificante para nós enquanto realizadores. Um festival que promove debates importantíssimos através dos temas abordados como questões sociais, políticas, ambientais e culturais”, completa.

Com coordenação de Cristovam Muniz Thiago, a 3ª edição do FICA – Festival Internacional de Cinema Ambiental de Garopaba deve atingir um público de 2.300 pessoas nos cinco dias de evento. Serão realizadas ações gratuitas presenciais e com classificação livre na praça e nos demais espaços culturais e educacionais de Garopaba e nas cidades de Imbituba, Laguna e Florianópolis. A programação completa está disponível no @fica.garopaba.

O Projeto Festival Internacional de Cinema Ambiental de Garopaba – 3ª edição é realizado com recursos do Prêmio Catarinense de Cinema, edição especial Paulo Gustavo/2023.

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