Demolição de casa histórica em Naufragados gera debate sobre justiça ambiental e desigualdade de tratamento

Demolição de casa histórica em Naufragados gera debate sobre justiça ambiental e desigualdade de tratamento 1

No extremo sul de Florianópolis, o bairro de Naufragados voltou ao centro do debate público após a demolição da casa de Mazinho, morador tradicional da região e ativista ambiental. O caso foi divulgado por ele mesmo em sua página no Instagram, @recantodosnaufragados, gerando comoção e reflexões sobre a atuação do Estado, a justiça ambiental e os critérios utilizados em decisões que afetam comunidades tradicionais.

Segundo o desabafo, a residência demolida abrigava a família de Mazinho desde os anos 1800. O motivo alegado pelas autoridades foi a invasão em área de preservação, com base na legislação ambiental. No entanto, a situação se tornou polêmica diante da manutenção de outro imóvel, de propriedade de um empresário, na mesma região, o qual teria sido autorizado a permanecer.

Atuação ambiental reconhecida e denúncia de seletividade

Mazinho, que atua desde 1984 em ações voluntárias em defesa do meio ambiente, é atualmente secretário executivo do Conselho Consultivo da Unidade de Conservação Federal da APA da Baleia Franca. Com décadas de contribuição para a proteção da biodiversidade no litoral catarinense, ele afirma que a aplicação da lei, no seu caso, foi rígida, punitiva e desigual.

“O papel fundamental do Estado é causar equilíbrio social, mas suas mãos fortes recaem muito pesadas sobre os mais fracos”, escreveu em seu perfil. “O Estado tem muito freio e pouco motor, por isso não dá conta sozinho. Por via de suas leis, deveria e poderia ser mais educativo do que punitivo.”

Em tom de lamento, mas também de resistência, Mazinho reforça seu compromisso com o Estado Democrático de Direito, mesmo diante de uma decisão que considera injusta: “Me esforçarei sempre para estar do lado certo da história, ainda que o Estado, por pura assimetria — não por outro motivo — me contrarie.”

Tradição familiar e impacto cultural

A demolição não impacta apenas a esfera privada. A casa de Mazinho representava também um marco histórico-cultural, preservando modos de vida, memórias e práticas enraizadas no território. Em uma região onde o debate entre preservação ambiental e permanência das comunidades tradicionais é constante, o caso reacende a discussão sobre quais critérios estão sendo utilizados para definir quem pode e quem não pode permanecer.

O papel da justiça ambiental

O episódio evidencia uma crítica recorrente em comunidades litorâneas e tradicionais: a de que a legislação ambiental, embora necessária, é aplicada de forma desigual, penalizando principalmente moradores com menos recursos e vínculos comunitários históricos, enquanto empreendimentos comerciais ou turísticos obtêm permissão para permanecer ou se regularizar.

Organizações civis e entidades de direitos humanos têm chamado atenção para a necessidade de o Estado conciliar preservação ambiental com justiça social e histórica, respeitando o protagonismo das comunidades que vivem nos territórios há gerações.

O Portal Sul de Floripa acompanha o caso e reforça seu compromisso com a escuta das vozes locais, a valorização das culturas tradicionais e a busca por um debate público mais justo e equilibrado.

📲 Acompanhe o desabafo de Mazinho no Instagram: @recantodosnaufragados

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