Jovens das periferias de Florianópolis se transformam em jornalistas

Adolescentes e jovens de 14 a 20 anos que participam de turmas do Centro Cultural Anastácia (CCA), em Florianópolis, produziram e publicaram conteúdos de jornalismo para a internet. Os jovens participaram de oficinas ministradas pela Associação Portal Catarinas sobre jornalismo e educação sexual, realizadas com o apoio da Prefeitura de Florianópolis.

Nas produções, os jovens listam filmes que tratam sobre gravidez na adolescência; falam sobre a realidade de pessoas trans a partir de uma entrevista com uma pessoa não binária; explicam o que é dependência emocional com base em conversas com uma psicóloga e com uma jovem que enfrentou a situação; apresentam a história de um jovem que vivenciou o vício em pornografia; e compartilham o relato de uma jovem de 17 anos que passou por assédio moral e sexual no trabalho. 

Os conteúdos já podem ser acessados. Clique aqui.

As oficinas, que possibilitaram aos jovens vivenciarem a experiência do jornalismo, fazem parte do projeto “Comunicação, Saúde e Gênero – educação sexual para adolescentes de bairros periféricos de Florianópolis (SC)”, também chamado Narrar para Transgredir.

Durante doze encontros, sendo seis para cada turma, iniciados no mês de agosto, os jovens aprenderam sobre apuração, checagem dos dados e escrita jornalística, além de conversarem sobre educação sexual.

O projeto tem o objetivo de apoiar a inserção dos adolescentes e jovens no mercado de trabalho, através do desenvolvimento de habilidades na área da comunicação. Por isso, as oficinas ocorrem dentro dos programas de formação para ingresso no mercado de trabalho. Ao todo, aproximadamente 60 adolescentes e jovens, das turmas Rito de Passagem e Jovem Aprendiz do CCA, participaram das oficinas. 

Oficinas de jornalismo e educação sexual

Através do projeto, o Catarinas também buscou contribuir com o combate à desinformação na adolescência e no início da juventude e, assim, cooperar com a diminuição da vulnerabilidade e exposição à violência sexual, gravidez precoce, infecções sexualmente transmissíveis, entre outras questões relacionadas à educação sexual. 

As oficinas foram ministradas pela jornalista Paula Guimarães e pela assistente social e professora universitária Nicole Ballesteros Albornoz. “As oficinas são fruto de um projeto apoiado pela Prefeitura Municipal de Florianópolis, via emenda parlamentar. A sexualidade, ao longo da história, esteve envolta em tabus e, mais recentemente, tem sido alvo frequente de desinformação. O jornalismo entra, então, como um instrumento emancipador, capaz de confrontar esses estigmas nocivos ao exercício pleno dos direitos cidadãos”, afirma Paula Guimarães.

A teoria e metologia utilizada nas oficinas mescla duas abordagens: a pedagogia feminista de bell hooks e a emancipadora de Paulo Freire. “São perspectivas que nos apoiam para pensarmos estratégias de valorização das experiências e conhecimentos dos adolescentes e jovens”, explicou Inara Fonseca, coordenadora pedagógica das oficinas. 

Entre os recursos criados exclusivamente para a oficina está um baralho com cartas temáticas ligadas à educação sexual e saúde, idealizado pela ministrante Nicole Ballesteros Albornoz e composto por mais de 30 palavras e expressões comuns entre os jovens.

“Os jogos educativos, além de serem ferramentas lúdicas, criam um ambiente descontraído, seguro e de confiança, permitindo uma discussão aberta sobre diversos temas a partir das experiências e relatos dos próprios jovens. Da dinâmica surgiram relatos de abuso sexual por familiares, consentimento, ejaculação, transgeneridade, entre outros temas”, afirma a idealizadora. 

Centro Cultural Anastácia

Desde 2005, o CCA passou a ser entidade formadora, autorizada pelo Ministério do Trabalho, para inserção de adolescentes e jovens no mercado de trabalho através dos programas ligados ao Jovem Aprendiz. Em 2023, 120 adolescentes e jovens conseguiram adentrar o mercado de trabalho a partir dos programas ofertados pelo Centro.

Tamiris Moreira Espíndola, assistente social e coordenadora de Projetos Sociais da instituição, afirma que os programas desenvolvidos são uma oportunidade de transformação para adolescentes e jovens de comunidades vulneráveis da Grande Florianópolis.

O programa Jovem Aprendiz oferece qualificação teórica e prática para jovens de 14 a 24 anos de comunidades socialmente vulneráveis. Os jovens participam de cursos profissionalizantes, assinam contratos formais de trabalho e recebem acompanhamento socioassistencial.

O programa Rito de Passagem atende jovens de famílias de baixa renda, entre 14 e 22 anos, prioritariamente autodeclarados negros, buscando quebrar um ciclo de preconceito, exclusão social e laboral, ao trazer oportunidades de conhecimento, informação e vivências.

O CCA também é responsável pela gestão da Casa de Acolhimento Darcy Vitória de Brito. O abrigo institucional recebe crianças e jovens encaminhados pelos Conselhos Tutelares do Município, Juizado da Infância e da Juventude, Comarca de Florianópolis ou Ministério Público. 

“Cada ação realizada visa oferecer oportunidades que superem vulnerabilidades e riscos sociais, reforçando a importância do acolhimento e do respeito às suas trajetórias e complexidades. O nosso trabalho é a prova de que, quando oportunidades são oferecidas de forma integrada e cuidadosa, vidas podem ser transformadas. E é por meio dessa transformação que se constrói uma sociedade mais justa e igualitária”, finaliza a assistente social Tamiris Moreira Espíndola.

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