João Rodrigues é especialista em queimar a largada

O prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), armou um circo final de semana e movimentou o cenário político catarinense. Com a festa do seu aniversário, mascarada de pré-lançamento de candidatura a governador ele antecipou o pleito de 2026 em um ano e meio. Abriu o balcão da oposição contra um governador de direita, com o mesmo perfil de eleitor. Mas, essa não é a primeira vez que João faz isso. Ele gosta de queimar a largada.

Essa mesma tática foi colocada em prática entre os anos de 2013 e 2014. Na época, seu correligionário João Raimundo Colombo era governador e João era deputado federal e se licenciou para assumir a Secretaria de Estado da Agricultura. Nem mesmo o fato de fazer parte do governo Colombo impediu o hoje prefeito de Chapecó de conspirar contra o governador que iria a reeleição. Num cenário muito parecido com o atual.

Ninguém me contou. Eu estava lá. Inclusive participei, na condição de imprensa, de um jantar organizado pelo staff de João em uma casa no bairro Santa Mônica, em Florianópolis. João chegou ao local em seu camaro preto e logo foi sendo saudado como futuro governador.

Lideranças de vários pontos do Estado estiveram presentes para oferecer-lhe o apoio. A cortina de fumaça era incluí-lo na chapa majoritária para disputar o Senado. Mas, nos bastidores era forte a informação de que o então secretário de Agricultura tinha uma carta na manga. Existia proposta para que ele se filiasse no PSB para disputar o governo.

Lembranças como essa não me deixam ficar surpreso com esses movimentos do prefeito de Chapecó. É uma estratégia: agregar quem não está na mesa do governo, até porque não tem como todo mundo estar com o governo. O desafio é levar esse movimento até a eleição, que ainda está muito distante. A política é muito dinâmica e o que é verdade cristalina hoje, amanhã já pode deixar de ser.

Majoritária frustrada

Só para concluir essa passagem do governo Colombo, o prefeito de Chapecó não conseguiu subir para a majoritária na eleição de 2014 e acabou indo à reeleição para deputado federal, conquistando mais um mandato.

Na eleição de 2018 ele também queria ser candidato a governador, mas, escanteado pelo aliado Gelson Merisio, disputou mais um mandato como deputado federal, porém, recaia contra ele uma condenação pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) a cinco anos e três meses de prisão em regime semiaberto por crimes da Lei de Responsabilidade Fiscal e da Lei de Licitações enquanto era prefeito do município de Pinhalzinho (SC). 

Por conta dessa condenação, com base na Lei da Ficha Limpa, foi considerado inelegível pela Justiça Eleitoral, o que o impediu de tomar posse no cargo de deputado federal, para o qual foi eleito nas eleições de 2018. Em fevereiro de 2018 ele foi preso pela Polícia Federal. Voltou à política só em 2020, como prefeito de Chapecó.

Em reportagem na imprensa da época, Rodrigues dizia que seria candidato a governador em 2018 nem que fosse à pé, mas perdeu a queda de braço para o Merisio

Memória  

Essa historinha explica muito sobre a ausência do ex-governador Colombo no evento de final de semana do prefeito de Chapecó. Raimundo tem boa memória. Outra figura expressiva do PSD ausente foi o prefeito de Florianópolis, Topázio Neto (PSD) que não é segredo, está fechadíssimo com Jorginho Mello (PL).

Bala trocada

Final de semana João Rodrigues atacou o prefeito de Florianópolis Topázio Neto que esteve em Chapecó, na condição de presidente da Fecam, participando de uma agenda do Governo do Estado e não compareceu no evento político do PSD no sábado (22). Ao que parece, Topázio incomoda João mais que o próprio Jorginho.

Gratidão

O prefeito de São José, Orvino Coelho de Ávila (PSD) e o vice-prefeito Michel Schlemper (MDB) estiveram em Chapecó levando seu apoio a João Rodrigues. E agem de forma correta. Na eleição municipal eles tiveram o apoio do prefeito oestino, lembrando que em São José há muitos moradores daquela região e isso ajudou com o projeto de reeleição do prefeito Orvino. Já Michel, apesar de ser do MDB, que está com Jorginho, também age com sensatez no gesto. É um movimento de gratidão.

Orvino e Michel com João Rodrigues

Cada um por si

Interessante na política que nenhuma liderança consegue fazer um acerto de porteira fechada com um partido político. Muitas vezes acerta com o partido, mas sempre tem algumas lideranças que vão para o outro lado. Exemplo é o MDB que está com Jorginho Mello. Mas, final de semana, as antigas lideranças Eduardo Pinho Moreira, Ada de Luca e Moacir Sopelsa, marcaram posição com seu opositor, João Rodrigues.

Esse evento de final de semana expôs essa condição também dentro das famílias. O governador Jorginho tem o ex-deputado federal, Paulinho Bornhausen, como secretário executivo de Articulação Nacional, mas o pai, Jorge, esteve final de semana em Chapecó com João Rodrigues. Enquanto isso a prefeita de Balneário Camboriú, Juliana Pavan esteve em Chapecó, enquanto o pai, prefeito de Camboriú, Leonel, foi ausência.

Foco no governo

Na condição de quem quer colocar água no chopp da reeleição de Jorginho Mello, o prefeito de Chapecó está no seu papel de fazer barulho. Precisa de exposição para se tornar viável e agregar lideranças ao seu projeto. Mas, isso é só movimentação política. O que vai decidir a eleição em 2026 é o sentimento do catarinense em relação ao atual Governo do Estado.

Com o advento das redes sociais, hoje em dia o eleitor tem um canal direto com o governante. Aquela figura do atravessar de voto, da liderança que influenciava no voto, está em baixa.  Por isso o foco de Jorginho e seus aliados deve ser única e exclusivamente o governo. Contra um governo bom e de entregas, não tem candidatura de oposição que resista. Antecipar o debate político é morder a isca de João Rodrigues.

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