Campanha começa na Capital com debate no 1º dia

Tinha tudo para ser um debate sem debate. Era para o ar na região do Morro das Antenas estar contaminado com uma dosagem cavalar de sonífero da melhor qualidade nesta manhã de sexta (16). O debate promovido pela CBN Florianópolis e NSC Total, do Grupo NSC, dada a data – no primeiro dia de campanha quando o eleitor ainda não está ligado na eleição e os candidatos ainda estão aquecendo pra entrar em campo – flertar com o marasmo. Mas, foi o contrário: teve debate. E contribuiu para isso a vontade dos candidatos.

Com as eleições cada vez mais curtas, as campanhas não querem perder um minuto. Nesta sexta (16) – primeiro dia de campanha – já teve chuva de santinhos nas redes sociais; bandeiraços nas ruas e o debate caiu com uma luva para os atores principais do espetáculo entrarem em campo. Não foi um debate sonolento, mas também não foi de baixo nível. Teve críticas, algumas alfinetadas no campo político e poucas propostas. Natural a pouca quantidade de propostas, dado o momento ainda inicial da campanha.

O confronto mediado pelo apresentador Raphael Faraco serviu para balizar as estratégias de cada candidato. Foram unânimes as críticas ao atual prefeito Topázio Neto (PSD), candidato a reeleição. Seu governo foi alvo de torpedos de toda ordem, desde a delicada saúde financeira da prefeitura até os casos recentes de corrupção. Lela (PT) levou o debate para a polarização nacional (visto que Topázio está coligado com o PL de Bolsonaro); Pedrão (PP) e Dário Berger (PSDB) fizeram críticas administrativas ao atual governo. Já Marquito (PSOL) e Rogério Portanova (Avante) foram mais contemplativos em suas colocações, menos ácidos e mais amenos.

Começou quente

Prova de que o debate foi surpreendente é que já começou com ‘trocação’ na primeira pergunta aberta entre candidatos no primeiro bloco. Lela do PT detalhou que Topázio que na eleição de 2022 apoiou Bolsonaro, inclusive com “dancinha do robozinho” e agora tem a vice do PL e apoio do governador Jorginho. O candidato do PT salientou que é esse posicionamento político está influenciando para que o atual governo seja impregnado com ideologia de destruição e política de ódio.

Topázio respondeu que se orgulha de ter votado em Bolsonaro para presidente, na opinião dele com as melhores propostas, e disse que igualmente se orgulha da parceria com o governador Jorginho, parceiro de inúmeros investimentos na Capital. Na réplica Lela afirmou que Topázio copia o bolsonarismo, quando seu governo praticou ações anti-vacina nas escolas municipais no início do ano e também quanto ao sucateamento da Floram. Na tréplica o prefeito afirmou que não é contra a vacina e que Lela está desinformado.

Na segunda pergunta foi o prefeito Topázio que foi pra cima do candidato Marquito. Questionou qual o entendimento de Marquito, caso vença a eleição, se será de cumprir o mandato. Topázio deu a entender que Marquito não costuma cumprir seus mandatos, visto que em 2020 elegeu-se vereador e após dois anos trocou a Câmara pela Alesc, ao se eleger deputado estadual.

Marquito corrigiu o prefeito afirmando que seu mandato de vereador foi de 6 anos, visto que se elegeu em 2016, sendo o segundo mais votado e em 2020 se reelegeu sendo o mais votado da Capital. Portando somente esse segundo mandato ele não cumpriu integramente, ao concorrer a deputado estadual na eleição passada, quando foi o deputado estadual mais votado da Capital.

Após o esclarecimento Marquito atacou. “Eu não entrei pelas portas do fundo. O senhor nem foi eleito, o senhor era o vice do prefeito Gean”, disparou Marquito. Na réplica Topázio afirmou que é candidato para ficar quatro anos na prefeitura, se eleito.

Em seguida o candidato Marquito perguntou ao candidato Dário sobre a questão das mudanças climáticas e perguntou suas propostas para enfrentar o tema. Dário falou sequer uma palavra para responder sobre a pergunta e como estratégia aproveitou todo o espaço para tecer críticas ao atual governo municipal. “Existe a cidade do tiktok e a cidade real. A cidade real significa dizer que as filas da saúde voltaram, que os exames estão demorando, vivemos uma epidemia de dengue jamais vista na história de SC, além disso, a cidade está tomada por moradores de rua e a situação se agrava todo dia”, disse.

Após esse início de debate mais, vamos dizer agressivo, as perguntas dos candidatos foram se amenizando. Numa clara jogada de dobradinha, Portanova questionou o candidato Pedrão, sobre seu vice, que é o único entre todos os candidatos que é homem. Pedrão ressaltou as qualidades do seu vice, o coronel Marcelo Pontes, de quando comandou a PM em SC. Na réplica Portanova também enalteceu sua vice, uma mulher negra.

Corrupção

O tema corrupção entrou no debate quando o candidato Pedrão lembrou os tempos em que esteve na Câmara ao lado de Lela, quando ambos combateram a corrupção. “Como o senhor encara esses casos de corrupção que hoje estão surgindo na Câmara e prefeitura”, questionou Pedrão.

Lela refletiu a indignação popular com o tema e lembrou várias ações que eles fizeram para combater a corrupção. Citou uma, por exemplo, que esteve muito envolvido, na recuperação dos R$ 27 milhões desviados através do estacionamento zona azul. Lembrou que os recursos estão bloqueados na Justiça e não entende o porquê de o prefeito não se movimentar para recuperá-lo para os cofres públicos. Na tréplica Pedrão citou a gritante falta de transparência da prefeitura de Florianópolis. Ele também citou que Topázio é o “maestro” da corrupção atual na prefeitura.

Em seguida foi a vez de Portanova não responder uma pergunta e aproveitar para atacar a atual administração. O candidato Dário o questionou sobre suas propostas para o público com transtornos do espectro autista. O candidato do Avante aproveitou para criticar Topázio. “Gostaria muito de morar na cidade que vejo pelo tiktok, mas não vejo essa cidade quando saio às ruas com minha bicicleta ou ao passear à noite”, criticou. Na réplica Dário disse que pretende implantar quatro centros para tratar o público autista, no Sul, Norte, Continente e Centro. Em sua tréplica Portanova, enfim, foi ao tema, explicando que sua vice pertence a uma ONG que atua com esse público e tem muitos projetos.

Direito de resposta

Apesar de várias solicitações, apenas um direito de resposta foi concedido pelos organizadores do debate. O prefeito Topázio foi contemplado depois que o candidato Dário o chamou de mentiroso deslavado.

O direito de resposta foi dado quase ao final do debate, quando o candidato Dário fez o comentário, mas a rusga começou no terceiro bloco, quando candidatos perguntavam para candidatos. Topázio disse que é criticado por Dário por fazer uso do tiktok, porém, afirmou que é uma forma de se comunicar e lamentou que a tecnologia seja recente, pois não pode acompanhar o que o candidato Dário fez nos últimos 8 anos, quando foi senador da República.

Dário respondeu que prestou relevantes serviços para Santa Catarina. Exemplificou que foi presidente da Comissão de Orçamento do Congresso Nacional, quando destinou ao Estado R$ 1,2 bilhão em recursos. Destes, citou como exemplo os valores destinados para a implantação da terceira faixa na Via Expressa. Também citou que fez parte da Comissão de Educação do Congresso, onde foi aprovado o Fundeb, entre outras ações para a educação. “Acho que você está precisando usar óculos”, respondeu Dário.

Topázio seguiu questionando o candidato Dário sobre o valor que veio para Florianópolis. Dário citou recursos destinados pelo seu gabinete investidos no Sul da Ilha e falou um valor total de R$ 98 milhões destinados no seu mandato como senador para o município. “Você procura que você vai achar, você está desinformado”, respondeu o ex-senador. O debate seguiu e no próximo bloco, Topázio retornou ao assunto afirmando que o Senador destinou para Santa Catarina R$ 100 milhões em emendas do seu gabinete e para Florianópolis apenas R$ 100 mil.

No último bloco Dário voltou ao tema de forma mais contundente. “Eu já sabia que o prefeito era um prefeito fake, um prefeito virtual, um prefeito de tiktok. Mas não sabia que era um prefeito mentiroso. É melhor ele se informar melhor e não iludir a população com mentiras deslavadas”, disse.

A produção concedeu o direito de resposta de um minuto para o candidato Topázio, que classificou como absurda as colocações de Dário. “Eu simplesmente olhei os fatos, os fatos estão lá, são públicos, é só pegar a quantidade de emendas parlamentares que o senhor encaminhou para Florianópolis e ver os valores”, disse. Ao total o debate teve quatro blocos que serviram para dar uma noção das estratégias de todos os candidatos. O que ficou é que Topázio é o alvo.

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